quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Apollo, o Deus da Esperança

Acordou com os cachorros lambendo a cara e procurando com o focinho algum espaço nos seus braços pra se ajeitar. Só os cachorros ainda sentiam a necessidade da companhia do tal fulano bêbado e que não parava em nenhuma esquina sem falar de Marte e da história de como a sua ex namorada era parecida com Afrodite.
Era frustado e estragado, normalmente, nao gostava de auto-ajuda e nem ler. Gostava era de ficar sozinho. O dom de rejeitar pessoas era divino ao seu ver, e mesmo assim, sem entender o porque, ele não rejeitava nada e nem ninguém alem dos cachorros da rua que faziam-se companheiros para as horas perdidas de gente perdida . Gente sem esforço e sem motivo. Sem nenhum ideal de vida para continuar, enfim, fazendo o mesmo drama de todas as noites e não nós deixava dormir. Era sempre o quase carregado nas costas durante toda a vida. Ele quase ia arrumar um emprego, maaaaaas... caiu um meteorito na terra, encontrou-se no inferno e quase arrumou um emprego. Ele quase ia parar de se drogar, maaaaas... o arcanjo Gabriel lhe veio dos céus para enviar-lhe uma mensagem mal-entendida divina enviada por Deus e ele quase parou de esconder as drogas na garganta e no fundo falso do armário.
Os quases nos perseguiam e eram arrastados pra cima e pra baixo, sempre com o intuito de sobreviver de algum jeito, respirando. Sentia-se já pesado demais pra correr daquilo, lotado de promessas não cumpridas que te levavam a sonhos ruins e a insonia, varias vezes. O quase que já era de todos, mas não meu. Não interessou mais. A esperança de descarregar a bagagem foi ficando minuscula com o passar dos anos. Ele quase ia tomar a ultima gota da garrafa do juízo, mas a boca já estava lotada de álcool e sem espaço pra gota de mais nada além de uma pílula. Coisas do cotidiano, que não era mais meu.
Deixei-lhe escorrer pelo rosto a ultima gota que eu podia oferecer de esperança pra se livrar do quase que não fazia a gente feliz, mas a boca estava cheia de mais de promessas não cumpridas e palavras usadas. O seu Apollo, que foi por muitos anos tão compreensível e articulável com o proibido já não conseguiu fazer parte do quase que fazia ele tão feliz. E não havia mas nada além de coisas quebradas e espaço pra quem conseguisse arrancar o tal quase da sua boca.

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