sábado, 13 de agosto de 2011

Primavera Sem Sol


"E cada verso meu será
Pra te dizer que eu sei que eu vou te amar
Por toda a minha vida"

Era uma linda tarde de novembro, mas lá fora já não havia mais folhas que pudessem ser vistas. Todo o chão estava molhado por causa da chuva da noite passada, e olhando da janela embaçada, o pequeno garoto observava toda a gente se encolhendo uma nas outras por causa do frio. O frio em si, não importava. Já não podia se dizer o mesmo das pessoas. O garoto pelo qual estava apaixonado estava do outro lado da calçada abraçado com o primeiro estranho que conseguiu conhecer. Não era mais especial, mas da janela dava pra ver o par de olhos curiosos procurando alguém que também tivesse sozinho na rua, pra poder parar um estranho solitário e oferecer companhia, e uma xícara de café.
Podia-se dizer que era exagero do menino. Mal tinha seus 17 anos e já se sentia tão sozinho. Ele já era assim de muito tempo, e morria de medo de acordar e continuar sozinho. Então, saia pelas ruas à procura do primeiro estranho, também sozinho, que aparece pra passar a noite. Buscava amor e essa era a sua maneira de procurar. Fazia o tempo passar mais rápido quando estava acompanhado e de companhia nunca estava farto. Eram 1, 3, 5 e muitas vezes eram até 10, mas hoje, era pra ser diferente. Era pra ter o um que continuava do outro lado da rua e que parecia como se estivesse, talvez, em outro planeta. Como se aquela pequena janela com os olhos tristes de ciúmes, não existissem. Essa tarde, e não só por ser uma tarde, devia ser mais cheia de cores. O pequeno garoto não teve muito que lamentar além da idade e da aparência. E do tempo que nunca agradava.
Nunca esperou nada pra ver o que acontecia. Sempre fazia o queria pra ter o que queria e não parecia fazer nada. De pouco importava o tamanho e a idade então. Era só pra fingir que não estava sozinho que ele falava consigo mesmo e com os passarinhos assoviando no quintal. Por entre o vidro embaçado, sentia o corpo e as mãos os frias de quem nem estava ao seu alcance. Tocava o corpo devagar pra descobrir onde gostava mais. E o que gostava mais, era das doces mãos dele. Sem perceber que já estava ali há muito tempo e que metade da cidade já tinha ido embora congelada pelo frio, conseguiu sentir o vazio da eterna ausência daquele que finalmente tinha feito alguma coisa que pudesse fazê-lo sorrir.
Lamentou por horas e depois saiu. Não que quisesse, só não fazia sentido ficar ali. Parado diante da janela sem ter mais o que ver, nem mais o que recordar. Não acreditava em sonhos nem contos de fadas, mas acreditava no amor como na própria existência. Era especial pensar nele. Fazia as horas passarem mais de pressa, porem, não mais depressa do que estar com alguém. Saiu. Voltou para os braços daqueles que nada queriam e nada podiam, daqueles que terão pra sempre medo de relacionamento. Acreditou, pra sempre, que por ter perdido uma única pessoa jamais seria feliz. Mal podia imaginar o garoto que não seria mesmo. 

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